H
P Blavatsky
Ingles:-
The Voice of the Silence
(Da tradução inglesa)
As páginas seguintes são extraídas do Livro dos Preceitos
de Ouro, uma das obras lidas pelos estudiosos do misticismo no Oriente. O seu
conhecimento é obrigatório naquela escola cujos ensinamentos são aceitos por
muitos teosofistas. Por isso, como sei de cor muitos destes preceitos, o
trabalho de traduzi-los foi para mim fácil tarefa.
É bem sabido que na Índia os métodos de
desenvolvimento psíquico divergem segundo os Gurus (professores ou mestres),
não só porque eles pertencem a diferentes escolas filosóficas, das quais há
seis, mas também porque cada Guru tem o seu sistema, que em geral mantém
cuidadosamente secreto. Mas, para além dos Himalaias, não há diferença de
métodos nas escolas esotéricas, a não ser que o Guru seja simplesmente um Lama,
pouco mais sabendo do que aqueles a quem ensina.
A obra, de onde são os trechos que traduzo, forma
parte da mesma série de onde são tiradas as estrofes do Livro de Dzyan sobre
que A Doutrina Secreta se baseia. Juntamente com a obra mística chamada
Paramartha, a qual segundo nos diz a lenda de Nagarjuna, foi ditada ao grande
Arhat pelos Nagas ou serpentes - nome dado aos antigos iniciados - o Livro dos
Preceitos Áureos invoca a mesma origem. As suas máximas e conceitos, porém, por
nobres e originais que sejam, encontram-se muitas vezes, sob formas diversas,
em obras sânscritas, tais como o Jnaneshevari, esse soberbo tratado místico em
que Krishna descreve a Arjuna, em cores brilhantes, a condição dum iogue
plenamente iluminado; e ainda em certos Upanishads. Isto, afinal, é
naturalíssimo, visto que quase todos, senão todos, os maiores Arhats, os
primeiros seguidores do Gautama Buda, foram hindus e árias, e não mongóis,
sobretudo aqueles que emigraram para o Tibete. As obras deixadas apenas por
Aryasanghas são, por si só, numerosíssimas.
Os preceitos originais estão gravados sobre lâminas
oblongas delgadas; as cópias, muitas vezes, sobre discos. Estes discos ou
chapas são geralmente conservados nos altares dos templos ligados aos centros
onde estão estabelecidas as chamadas escolas “contemplativas” ou Mahayana
(Yogacharya). Estão escritos de diversas maneiras, às vezes no idioma tibetano,
mas principalmente em idéografos. A língua sacerdotal (senzar), além de por um
alfabeto seu, pode ser traduzida em várias maneiras de escrita em caracteres
cifrados, que têm mais de ideogramas do que de sílabas. Um outro método (lug,
em tibetano) é o de empregar os números e as cores, cada um dos quais
corresponde a uma letra do alfabeto tibetano (trinta letras simples e setenta e
quatro compostas), formando assim um alfabeto criptográfico completo. Quando se
empregam os idéografos há uma maneira certa de ler o texto, pois, neste caso,
os símbolos e os sinais usados na astrologia, isto é, os doze animais zodíacos
e as sete cores primárias, cada uma tripla em seu matiz (claro, primário e escruro),
representam as trinta e três letras do alfabeto simples, formando palavras e
orações. Porque, neste método, os doze animais, cinco vezes repetidos e juntos
aos cinco elementos e às sete cores, compõem um alfabeto completo de de setenta
letras sagradas e doze signos. Um signo posto no princípio de um parágrafo
indica se o leitor tem de soletrar segundo o modo índio (em que cada palavra é
apenas uma adaptação, sânscrita), ou segundo o princípio chinês de ler os
ideógrafos. O método mais fácil é, porém, aquele que não deixa o leitor
empregar qualquer língua especial, ou o que quiser, visto que os sinais e os
símbolos eram, como os números ou algarismos arábicos, propriedade comum e
internacional entre os místicos iniciados e os seus seguidores. A mesma peculiaridade
é característica de uma das maneiras chinesas de escrever, que pode ser lida
com igual facilidade por qualquer pessoa conhecedora dos caracteres: por
exemplo, um japonês pode lê-la na sua língua tão prontamente
O Livro dos Preceitos Áureos - alguns dos quais são
pré-budísticos, ao passo que outros pertencem a um época posterior - contém uns
noventa pequenos tratados distintos. Destes aprendi de cor, há muitos anos,
trinta e nove. Para traduzir os outros, teria de me referir a apontamentos
dispersos entre um número de papéis e notas, representando um estudo de 20 anos
e nunca postos em ordem, demasiado grande para que a tarefa fosse fácil. Nem
poderiam ser, todos, traduzidos e dados a um mundo por demais egoísta e atado aos
objetos dos sentidos, para que pudesse estar preparado a receber, com a devida
atitude do espírito, uma moral tão elevada. Porque, a não ser que um homem se
entregue perseverantemente ao culto do conhecimento de si próprio, nunca poderá
de bom grado dar ouvidos a conselhos desta natureza.
E, contudo, esta moral enche tomos e tomos da
literatura oriental, sobretudo nos Upanishads. “Mata todo o desejo de viver” -
diz
Por isso se julgou melhor fazer uma escolha judiciosa
só entre aqueles tratados que mais sirvam aos poucos verdadeiro místicos que há
na Sociedade Teosófica, e que com certeza se ajustem às suas necessidades. Só
esses compreenderão estas palavras de Krishna-Christos, a Personalidade
Superior.
“Sábios, não choreis nem pelos vivos nem pelos mortos.
Nunca deixei de existir, nem vós, nem estes reis dos homens; nem no futuro
deixará qualquer um de nós de existir” (Bhagavad Gita, II 11-12).
Estas instruções são para aqueles que não conhecem os
perigos dos Iddhi (1) inferiores.
Aquele que quiser ouvir a voz de Nada (2), o Som sem
som, e compreendê-la, terá de aprender a natureza do Dharana (3).
Tendo-se tornado indiferente aos objetos da percepção,
deve o aluno procurar o Raja dos sentidos, o produtor de pensamentos, aquele
que acorda a ilusão.
A Mente é a grande assassina do Real.
Que o discípulo mate o assassino.
Porque quando para si mesmo a sua própria forma parece
irreal, como o parecem, ao acordar, todas as formas que ele vê em sonhos;
quando deixar de ouvir os muitos, poderá divisar o Um - o som interior que mata
o exterior.
Então, e só então, abandonará ele a região de Asat, o
falso, para chegar ao reino de Sat, o verdadeiro.
Antes que a
Antes que a
Antes que a
Porque então a
E então ao ouvido interior falará
A Voz do Silêncio
e dirá:
Se a tua Alma sorri ao banhar-se ao sol da tua vida;
se a tua Alma canta dentro da sua crisálida de carne e de matéria; se a tua
Alma chora dentro do seu castelo de ilusão; se a tua Alma se esforça por
quebrar o fio de prata que a liga ao Mestre (4); sabe, ó discípulo, que a tua
Alma é da terra.
Quando ao tumulto do mundo a tua Alma (5) que
desabrocha dá ouvidos; quando à voz clamorosa da grande ilusão (6) a tua Alma
responde; quando se assusta ao ver as lágrimas quentes da dor, quando a
ensurdecem os gemidos da angústia, quando a Alma se retira, como a tartaruga
tímida, para dentro da concha da personalidade, sabe, ó discípulo, que do seu
Deus silencioso a tua Alma é um sacrário indigno.
Quando, já mais forte, a tua Alma vai saindo do seu
retiro seguro; quando, deixando o sacrário protetor, estende o seu fio de prata
e avança; quando, ao contemplar a sua imagem nas ondas do espaço, ela murmura,
“Isto sou eu” - declara, ó discípulo, que a tua Alma está presa nas teias da
ilusão (7).
Esta terra, discípulo, é a sala da tristeza, onde
existem, pelo caminho das duras provações, armadilhas para prender o teu Eu na
ilusão chamada “a grande heresia” (8).
Esta terra, ó discípulo ignaro, não é senão a triste
entrada para aquele crepúsculo que precede o vale da verdadeira luz - essa luz
que nenhum vento pode apagar, e que arde sem óleo nem pavio.
Diz a grande Lei: “
Cavalga a Ave da Vida, se queres saber (12).
Abandona a tua vida, se queres viver (13).
Três salas, ó cansado peregrino, conduzem ao fim dos
trabalhos. Três salas, ó conquistador de Mara, te trarão através de três
estados (14) até ao quarto (15), e daí até aos sete mundos (16), os mundos do
descanso eterno.
Se queres saber os seus nomes, escuta-os e aprende-os.
O nome da primeira sala é Ignorância - Avidya. É a
sala em que viste a luz, em que vives e hás de morrer (17).
O nome da segunda sala é a Sala da Aprendizagem (18).
Nela a tua Alma encontrará as flores da vida, mas debaixo de cada flor uma
serpente enrolada (19).
O nome da terceira sala é Sabedoria, para além da qual
se estende o mar sem praias de Akshara, a fonte indestrutível da onisciência
(20) .
Se queres atravessar seguramente a primeira sala, que
o teu espírito não tome os fogos da luxúria que ali ardem pela luz do sol da
vida.
Se queres atravessar seguramente a segunda, não pares
a aspirar o perfume das suas
Os sábios não se demoram nas regiões de prazer dos
sentidos.
Os sábios não dão ouvidos às vozes musicais da ilusão.
Procura aquele, que te dará o ser (21), na Sala da
Sabedoria, a sala que está para além, onde todas as sombras são desconhecidas e
onde a luz da verdade brilha como uma glória imorredoura.
Aquilo que é incriado está dentro de ti, discípulo,
assim
Esta luz brilha na jóia do grande enganador (Mara)
(23). Enfeitiça os sentidos, cega o espírito e deixa o descuidado naufragado e
sozinho.
A borboleta atraída para a chama da tua lâmpada
noturna está condenada a ficar morta no azeite. A
Olha as hostes das
Se, passando pela Sala da Sabedoria, queres chegar ao
vale da felicidade, fecha, discípulo, os teus sentidos à grande e cruel heresia
da separação, que te afasta dos outros.
Que aquilo que em ti é de origem divina não se separe,
engolfando-se no mar de Maya (24), do Pai Universal (a Alma), mas que o Poder
de Fogo (25) se retire para a câmara interior, a câmara do coração (26), e o
domicílio da Mãe do Mundo (27).
Então do coração esse poder subirá até à sexta região,
à região média, ao lugar entre os teus olhos, quando se toma a respiração da
Alma-Única, a voz que enche tudo, a voz do seu Mestre.
É só então que te podes tornar um “que anda nos céus”
(28), que
Antes que ponhas o pé sobre o degrau superior da
escada, da escada dos sons místicos, tens de ouvir de sete maneiras a voz do
teu Deus interior (29).
A primeira é
A segunda vem
A terceira é
E a esta segue-se o canto da vina (30).
A quinta,
Muda depois para um clamor de trompa.
A última vibra
A sétima absorve todos os outros sons. Eles morrem, e
não tornam a ouvir-se.
Quando os seis (31) estão mortos e postos aos pés do
mestre, então se entrega o aluno no Único (32), se torna esse Único e nele
vive.
Antes que possas entrar para esse caminho, tens de
destruir o teu corpo lunar (33), e limpar o teu corpo mental (34), assim
As águas puras da vida eterna, límpidas e cristalinas,
não podem misturar-se com as torrentes lamacentas da tempestade de monção.
O orvalho do céu brilhando ao primeiro raio do sol no
coração do lótus, quando cai na terra torna-se uma, gota de lama; vede
Antes que o poder místico (35) te possa fazer um Deus,
Lanu, deves ter adquirido a faculdade de matar, quando quiseres, a tua forma
lunar.
A pessoa da matéria e a Pessoa do Espírito nunca se
podem encontrar. Uma delas tem de desaparecer; não há lugar para ambas.
Antes que a mente da tua
Não podes caminhar no Caminho enquanto não te
tornares, tu próprio, esse Caminho (36).
Que a tua
Que o sol feroz não seque uma única lágrima de dor
antes que a tenhas limpado dos olhos de quem sofre.
Que cada lágrima humana escaldante caia no teu coração
e aí fique; nem nunca a tires enquanto durar a dor que a produziu.
Estas lágrimas, ó tu de coração tão compassivo, são os
rios que irrigam os campos da caridade imortal. É neste terreno que cresce a
flor noturna de Buda (37), mais difícil de achar, mais rara de ver, do que a
flor da árvore Vogay. É a semente da libertação do renascer. Ela isola o Arhat
tanto da luta como da luxúria, leva-o através dos campos do ser para a paz e a
felicidade que só se conhecem na terra do silêncio e do não-ser.
Mata o desejo; mas se o matares, cuida bem em que ele
não renasça da morte.
Mata o amor da vida; mas se matares Tanha (38), que
isso não seja pela ânsia da vida eterna, mas para substituir o evanescente pelo
eterno.
Não desejes nada. Não te indignes contra o Carma, nem
contra as leis imutáveis da natureza. Mas luta apenas com o pessoal, o
transitório, o evanescente e o que tem de perecer.
Auxilia a natureza e trabalha com ela; e a natureza
ter-te-á por um dos seus criadores, obedecendo-te.
E ela abrirá de par em par diante de ti as portas das
suas câmaras secretas, desnudará ao teu ornar os tesouros ocultos nas
profundezas do seu seio virgem. Impoluída pela mão da matéria, ela revela os
seus tesouros apenas aos olhos do Espírito - os olhos que nunca se fecham, os
olhos para os quais não há véu em todos os seus remos.
Então ela te mostrará o meio e a senda, a primeira
porta, e a segunda, e a terceira, até à própria sétima porta. E então a meta,
para além da qual estão, banhadas pelo sol do Espírito, glórias indizíveis, que
só o olhar da
Há só uma senda até ao Caminho; só chegado bem ao fim
se pode ouvir a Voz do Silêncio. A escada pela qual o candidato sobe é formada
por degraus de sofrimento e de dor; estes só podem ser calados pela voz da
virtude. Ai de ti, pois, discípulo, se há um único vício que não abandonaste;
porque então a escada abaterá e far-te-á cair; a sua base assenta no lodo fundo
dos teus pecados e defeitos, e antes que possas tentar atravessar esse largo
abismo de matéria, tens de lavar os teus pés nas águas da renúncia.
Acautela-te, não vás pousar um pé ainda sujo no primeiro degrau da escada. Ai
daquele que ousa poluir um degrau com seus pés lamacentos. A lama vil e viscosa
secará, tornar-se-á pegajosa, e acabara por colar-lhe o pé ao degrau; e,
Mata os teus desejos, Lanu; torna os teus vícios impotentes,
até dares o primeiro passo na jornada solene.
Estrangula os teus pecados, torna-os mudos para
sempre, antes que ergas um pé para subir a escada.
Faze calar os teus pensamentos e concentra toda a tua
atenção sobre o teu Mestre, que tu por enquanto não vês, mas sentes.
Funde num só sentido todos os teus sentidos, se queres
tomar-te seguro contra o inimigo. É só por aquele sentido que está oculto no
vácuo do teu cérebro, que o caminho íngreme que conduz ao teu Mestre se pode
revelar aos olhos indecisos da tua, Alma.
Longa e fatigante é a senda ante ti, ó discípulo. Um
único pensamento a respeito do passado que abandonaste puxar-te-á para baixo, e
terás novamente de começar a ascensão.
Mata em ti toda a recordação de experiências passadas.
Não te voltes para trás ou estás perdido.
Não creias que a luxúria pode alguma vez ser morta se
é satisfeita ou saciada, porque isso é uma abominação inspirada por Mara.
É alimentando o vício que ele se expande e torna
forte,
A
A árvore dourada dá
O aluno tem de tornar ao estado de infância que perdeu
antes que o primeiro som lhe possa soar ao ouvido.
A luz do único Mestre, a única, eterna, luz dourada do
Espírito, derrama os seus raios fulgurantes sobre o discípulo desde o
princípio. Os seus raios atravessam as nuvens espessas e pesadas da matéria.
Ora aqui, ora ali, esses raios iluminam-na,
A não ser que ouças, não poderás ver.
A não ser que vejas, não poderás ouvir. Ouvir e ver,
eis o segundo estágio.
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Quando o discípulo vê e ouve, e quando cheira e gosta,
com os olhos fechados, os ouvidos fechados, tapados o nariz e a, boca; quando
os quatro sentidos se fundem e estão prontos a tornar-se o quinto, aquele do
tato interior - então passou ele para o quarto estágio.
E no quinto, á matador dos teus pensamentos, todos
estes têm de ser outra vez mortos até não ser possível reanimarem-se (40).
Retira a tua mente de todos os objetos externos, de
todas as vistas externas. Retira as imagens internas, para que não lancem uma
sombra negra sobre a luz da tua
Estás agora em Dharana (41), o sexto estágio.
Quando tiveres passado para o sétimo, ó bem-aventurado,
não mais verás os Três sagrados (42), porque te terás, tu próprio, tornado
esses Três. Tu próprio e a mente, como gêmeos sobre uma linha, a estrela que é
o teu guia brilha por cima, nas alturas (43). Os Três que moram na glória e na
felicidade inefáveis, agora perderam os seus nomes no mundo de Maya.
Tornaram-se uma só estrela, o fogo que arde mas não queima, o fogo que é o
Upadhi (44) da chama.
E isto, ó iogue do sucesso, é aquilo a que os homens
chamam Dhyana (45), o verdadeiro precursor do Samadhi (46).
E agora a tua personalidade está perdida na
Personalidade, tu para contigo próprio imerso naquela Personalidade de onde
primeiro irradiaste.
Onde está a tua individualidade, Lanu, onde está o
próprio Lanu? É a fagulha perdida no meio do fogo, a gota dentro do oceano, o
raio de luz sempre presente tornado o Todo e o fulgor eterno.
E agora, Lanu, tu és o agente e a testemunha, o que
irradia e a irradiação, a luz no som, e o som na luz.
Conheces, ó bem-aventurado, os cinco impedimentos. Tu
és o seu conquistador, o mestre do sexto, libertador dos quatro modos da
verdade (47) - A luz que cai sobre eles brilha de ti, à tu que foste discípulo,
mas agora és professor.
E destes modos da verdade:
Não atravessaste tu o conhecimento de toda a dor -
primeira verdade?
Não venceste tu o rei dos Maras em Tsi, a porta da
reunião (48) - segunda verdade?
Não destruíste tu o pecado à terceira porta,
atingindo a terceira verdade?
Não entraste tu para Tau, o caminho que leva ao
conhecimento (49) a quarta verdade?
E agora, descansa sob a árvore de Bodhi, que é a
perfeição de todo o conhecimento, porque, sabe-o, és possuidor de Samadhi - o
estado da visão infalível.
Vê! tornaste-te a luz, tornaste-te o som, és o teu
Mestre e o teu Deus. Tu próprio és o objeto da tua busca: a voz sem falha, que
ressoa através de eternidades, isenta de mudança, isenta de pecado, os sete
sons em um,
A Voz do Silêncio.
E AGORA, ó Mestre da compaixão, ensina tu o caminho aos
outros homens. Olha, todos aqueles que, batendo para que os admitam, esperam na
ignorância e na escuridão ver abrir-se a porta da suave Lei!
A voz dos candidatos:
Não quererás tu, Mestre da tua própria misericórdia,
revelar a doutrina do coração (50)? Recusar-te-ás a conduzir os teus servos até
ao Caminho da libertação?
Diz o mestre:
Os caminhos são dois; as grandes perfeições três; seis
as virtudes que transformam o corpo na árvore da sabedoria (51).
Quem se aproximará delas?
Quem primeiro entrará para elas?
Quem primeiro ouvirá a doutrina dos dois caminhos em
um, a verdade sem véu a respeito do Coração Secreto (52)? A lei que, rejeitando
o aprender, ensina a sabedoria, revela uma história de dor.
Ai de nós, ai de nós, que todos os homens possuam
Alaya, sejam unos com a grande
Repara como, qual a lua se reflete nas ondas
tranqüilas, Alaya é refletida pelos pequenos e pelos grandes, espelhado nos
átomos ínfimos, e contudo não consegue chegar ao coração de todos. Ai de nós,
que tão poucos sejam os homens que se aproveitem do dom, do dom sem preço, de
aprender a verdade, a verdadeira percepção das coisas existentes, o
conhecimento do não-existente!
Diz o aluno:
Ó Mestre, que farei eu para atingir a sabedoria? Ó
Sábio, que farei para conseguir a perfeição?
Procura os caminhos. Mas, ó Lanu, sê puro de coração
antes que comeces a tua jornada. Antes que dês o primeiro passo, aprende a
separar o real do falso, o transitório do eterno. Aprende sobretudo a separar a
ciência da cabeça da sabedoria da Alma, a doutrina dos “olhos” da doutrina do
“coração”.
Sim, a ignorância é
Mas mesmo a ignorância é melhor do que a ciência de
cabeça sem a sabedoria de
As sementes da sabedoria não podem germinar e crescer
no espaço sem ar.
Porque a mente é
Afasta-te da ignorância e da ilusão também. Vira o
rosto às decepções do mundo; desconfia dos teus sentidos; eles mentem. Mas
dentro do teu corpo - escrínio das tuas sensações - procura no impessoal o
Homem Eterno (56) e, tendo-o procurado, olha para dentro; tu és Buda (57).
Rejeita o aplauso, ó crente; o aplauso conduz à ilusão
de si próprio. O teu corpo não é Personalidade, a tua Personalidade é, em si,
sem corpo, e o elogio ou a censura não a atingem.
O contentamento de si próprio, ó discípulo, é uma
torre altíssima, à qual um insensato orgulhoso subiu. Ali se senta em orgulhosa
solidão, invisível a todos, salvo a si próprio.
A falsa ciência é rejeitada pelos sábios, e espalhada
aos ventos pela Boa Lei. A sua roda gira para todos, tanto para os humildes
como para os orgulhosos. A doutrina dos olhos é para a multidão; o doutrina do
coração para os eleitos. Os primeiros repetem, orgulhosos: “Vede, eu sei”; os
últimos, aqueles que humildemente fizeram a sua colheita, confessam em voz
baixa: “Assim ouvi” (58).
“A Grande Joeira” é o nome da Doutrina do Coração, ó
discípulo.
A roda da Boa Lei gira rapidamente. Noite e dia mói.
Afasta o joio do trigo dourado, e a casca da farinha. A mão do Carma guia a
roda; as rotações marcam o bater do coração cármico.
O verdadeiro conhecimento é a farinha, a falsa ciência
é a casca. Se queres comer o pão da sabedoria, tens de amassar a tua farinha
com a água límpida de Amrita (59). Mas, se amassas cascas com o orvalho de
Maya, só podes criar alimento para as pombas negras da morte, as aves da
nascença, da decadência e da tristeza.
Se te disserem que para te tornares Arhan tens de
deixar de amar todas as coisas - dize-lhes que mentem.
Se te disserem que para te libertares tens de odiar a
tua mãe e desprezar o teu filho; de renegar o teu pai e chamar-lhe dono de casa
(60); de renunciar toda a compaixão pelos homens e pelos animais - dize-lhes
que as suas palavras são falsas.
Assim ensinam os Tirthikas (61), os descrentes.
Se te ensinarem que o pecado nasce da ação e a
felicidade da inação absoluta, dize-lhes que se enganam. A não-permanência da
ação humana, a libertação da mente da sua escravidão pela cessação do pecado e
das culpas não são coisas para os Eus Devas (62). Assim reza a doutrina do
coração.
O Dharma (63) dos olhos é a corporização do externo e
do não-existente.
O Dharma do coração é a corporização de Bodhi (64), o
eterno e o permanente.
A lâmpada brilha bastante quando estão limpos pavio e
óleo.
Tanto a ação como a inação podem caber em ti; o teu
corpo agitado, a tua mente tranqüila, a tua
Queres tu tornar-te um iogue do círculo do tempo?
Então, ó Lanu:
Não creias que sentando-te em florestas escuras, em
orgulhosa reclusão, longe dos homens; não creias que a vida alimentada a
plantas e raízes, saciada a sede com a neve da. grande Cordilheira - não
creias, ó devoto, que isto te levará à meta da libertação final.
Não julgues que o partir dos ossos, o rasgar da carne
e dos músculos, te unirá à tua Personalidade silenciosa (65). Não julgues que
quando estão vencidos os pecados da tua forma grosseira, ó vítima das tuas
sombras (66), o teu dever está cumprido para com a natureza e com os homens.
Os bem-aventurados não quiseram fazer assim. O Leão da
Lei, o Senhor da Misericórdia (67), percebendo a verdadeira causa da dor
humana, imediatamente abandonou o repouso suave mas egoísta das solidões
sossegadas. De Aranyaka (68) tornou-se o Mestre da humanidade. Depois de Julai
(69) ter entrado para o Nirvana, ele pregou em montanhas e planícies, fez
sermões nas cidades, aos Devas, aos homens e aos Deuses (70).
Semeia boas ações e colherás o seu fruto. A inação num
ato de misericórdia passa a ser a ação num pecado mortal.
Assim diz o Sábio:
Por que queres abster-te da ação? Não é assim que a
tua
Tem paciência, candidato, como quem não teme falhar,
nem procura triunfar. Fixa o olhar da tua
Tem perseverança,
Se queres colher a suave paz e o descanso, discípulo,
semeia as sementes do mérito nos campos das colheitas futuras. Aceita as dores
da nascença.
Afasta-te da luz do sol para a sombra, para dares mais
espaço aos outros. As lágrimas que regam o solo árido da dor e da tristeza
fazem nascer as
Essas vestes são: Nirmanakaya, Sambhogakaya, e
Dharmakaya, traje sublime (73).
A veste Shangna, (74) é certo, pode comprar a luz
eterna. A veste Shangna, por si só, dá o Nirvana da destruição; pára o
renascer, mas, ó Lanu, também mata a compaixão. Os Budas perfeitos, que vestem
a glória do Dharmakaya, já não podem contribuir para a salvação humana. Ai de
nós! Devem as personalidades ser sacrificadas a uma só? Deve a humanidade ser
sacrificada ao bem de indivíduos?
Aprende, ó principiante, que este é o caminho aberto,
o caminho para a felicidade egoísta, evitado pelos Bodhisattvas do Coração
Secreto, os Budas da Compaixão.
Viver para servir a humanidade é o primeiro passo.
Praticar as seis virtudes gloriosas (75) é o segundo.
Vestir a veste humilde do Nirmanakaya é rejeitar para
si a felicidade eterna, para poder auxiliar a salvação humana. Chegar à
felicidade do Nirvana, mas renunciar a ela, é o passo supremo, final - o mais
alto no caminho da renúncia.
Aprende, ó discípulo, que é este o caminho secreto,
escolhido pelos Budas da perfeição, que sacrificaram a sua Personalidade a
personalidades mais fracas.
Mas, se a doutrina do coração é alta demais para ti,
se precisas te auxiliar a ti próprio e receias oferecer auxílio aos outros -
então, tu de coração tímido, acautela-te a tempo; contenta-te com a doutrina
ocular da Lei. Continua esperando. Porque se o Caminho Secreto não é atingível
hoje, amanhã (76) estará ao teu alcance, Aprende que não há esforço, por
pequeno que seja quer no bom sentido, quer no mau - que possa perder-se e
desaparecer no mundo das causas. Mesmo o fumo dado ao vento não é sem rastro.
“Uma palavra brusca dita em vidas passadas não se perde, mas renasce sempre”
(77). A pimenteira não produz rosas, nem a estrela de prata do jasmim se torna
espinho ou cardo.
Podes criar hoje tuas oportunidades de amanhã. Na
Grande Jornada (78), as causas semeadas cada hora produzem cada qual a sua
colheita de efeitos, porque uma justiça inalterável rege o mundo. Com o vasto
alcance de ação infalível ela traz aos mortais vida de alegria ou de angústia,
a prole cármica dos nossos pensamentos e ações anteriores.
Aceita, pois, tanto quanto o mérito te reserva, ó de
coração paciente. Anima-te e contenta-te com a sorte. Tal é o teu Carma, o
Carma do ciclo dos teus nascimentos, o destino daqueles que, na sua dor e
tristeza, nascem a ti ligados, riem e choram de vida a vida, presos às tuas
ações anteriores.
....................................................................................
Age tu por eles hoje, e eles agirão por ti amanhã.
É do botão da renúncia da sua própria personalidade
que nasce o fruto doce da libertação final.
Condenado a perecer é aquele que por medo de Mara deixa
de auxiliar os homens, receando agir em proveito próprio. O peregrino que quer
refrescar os seus membros lassos em águas correntes, mas não mergulha por medo
à corrente, arrisca-se a morrer de calor. A inação baseada no medo egoísta não
pode dar senão mau fruto.
O devoto egoísta vive inutilmente. Vive em vão o homem
que não realiza na vida a obra para que nasceu.
Segue a roda da vida; segue a roda do dever para com a
tua raça e os do teu sangue, para com o amigo e o inimigo, e fecha a tua mente
tanto aos prazeres como à dor. Esgota a lei da retribuição cármica. Adquire
siddhis (79) para o teu nascimento futuro.
Se não podes ser o sol, sê então o humilde planeta.
Sim, se te é impossível brilhar
Aponta o caminho - por vagamente que o faças, e
perdido entre a multidão -
Olha Migmar (80), quando nos seus véus carmesins o seu
olhar se derrama sobre a Terra que dorme. Olha a aura de fogo da mão de Lhagpa
(81) estendida com amorosa proteção por sobre as cabeças dos seus ascetas.
Ambos são agora servos de Nyima (82), ficando, na sua ausência,
Sê, ó Lanu,
Dize-lhe, ó candidato, que aquele que faz do orgulho e
do egotismo servos da devoção; que aquele que, tenaz da sua existência, em todo
o caso depõe a sua paciência e submissão à Lei
Dize-lhe, ó aspirante, que a verdadeira devoção pode
tornar a dar-lhe o conhecimento, aquele conhecimento que era seu nas suas vidas
anteriores. A visão dévica e o ouvido dévico não se podem obter em uma breve
vida.
Sê humilde, se queres adquirir a sabedoria: sê mais
humilde ainda, quando a tiveres adquirido.
Sê como o oceano, que recebe todos os rios e riachos.
A calma imensa do oceano não se perturba; recebe-os e não os sente.
Domina o teu ser interior com o teu ser divino. Domina
o divino com o eterno.
Sim, grande é aquele que mata o desejo: maior ainda é
aquele em quem a divina Personalidade matou o próprio conhecimento do desejo.
Põe-te de guarda ao inferior, para que não macule o
superior.
O caminho para a libertação final está dentro da tua
personalidade. Esse caminho começa e acaba fora da personalidade (85).
Sem elogios de todos os homens e humilde é a mãe de
todos os rios na vista orgulhosa de Tirthika (86); vazia a forma humana, ainda
que cheia das águas suaves de Amrita ao olhar dos insensatos. E, contudo, a
origem dos rios sagrados é a terra sagrada (87), e aquele que possui a.
sabedoria é respeitado por todos os homens.
Arhans e Sábios da visão ilimitada (88) são raros como
a flor da árvore Udumbara. Os Arhans nascem à meia-noite, com a planta sagrada
de nove e sete caules (89), a flor sagrada que desabrocha e floresce na
escuridão, saída do orvalho puro e do leito gelado das alturas nevadas, alturas
que nenhum pé pecador pisou.
Nenhum Arhan, ó Lanu, se torna um naquela vida em que
pela primeira vez a Alma começa a ansiar pela libertação final. E, contudo, ó
ansioso, a nenhum guerreiro oferecendo-se voluntariamente para a terrível luta
entre o vivo e o morto (90), a nenhum recruta pode ser recusado o direito de
entrar no caminho que conduz ao campo de batalha.
Porque ou vence ou cai.
Sim, se vence, o Nirvana será seu. Antes de abandonar
a sua sombra, de enjeitar a sua veste mortal, essa causa abundante de angústia
e de dor ilimitável, os homens honrarão nele um Buda grande e sagrado.
E se cai, mesmo assim não cai em vão; os inimigos que
abateu na última batalha não tornarão a viver na sua próxima encarnação.
Mas, se queres chegar ao Nirvana, ou rejeitar esse
prêmio (91), não deixes o fruto da ação e da inação ser o teu motivo, ó de
coração indômito.
Aprende que ao Bodhisattva que troca a libertação pela
renúncia para vestir as angústias da vida secreta (92), chama-se três vezes venerado,
ó candidato à dor através dos ciclos.
O Caminho é um, discípulo, mas, no fim, duplo.
Marcados estão os seus estágios por quatro e sete portas. A uma extremidade a
felicidade imediata, à outra, felicidade renunciada. Ambos são a recompensa do
mérito: a escolha a ti pertence.
O um toma-se os dois, o Aberto e o Secreto (93). O
primeiro leva à meta, o segundo à imolação de si próprio.
Quando ao permanente o mutável se sacrifica, o prêmio
é teu; volta a gota ao lugar de onde veio, O Caminho Aberto conduz à mudança
imutável - Nirvana, o estado glorioso de absoluto, a felicidade para além da
concepção humana.
Assim, o primeiro caminho é a Libertação.
Porém, o segundo caminho é a Renúncia; por isso é
chamado o Caminho da Dor.
O Caminho Secreto conduz o Arhan a uma angústia mental
inexprimível; dor pelos mortos que estão vivos (94), e compaixão inútil pelos
homens da tristeza cármica; o fruto do Carma não ousam os Sábios fazer parar.
Porque está escrito: “Ensina a evitar todas as causas;
à maré do efeito, como à grande onda, deixarás seguir o seu curso”.
O Caminho Aberto, mal chegaste ao seu fim, levar-te-á
a rejeitar o corpo bodhisattvico, e far-te-á entrar para o estado três vezes
glorioso de Dharmakaya (95), que é o eterno esquecimento dos homens e do mundo.
A estrada secreta também conduz à felicidade
paranirvânica - mas ao termo de kalpas inúmeros; Nirvanas ganhos e perdidos por
uma piedade e compaixão ilimitadas pelo mundo de mortais iludidos.
Mas diz-se: “O último será o maior”. Samyak Sambuda, o
Mestre da perfeição, abandonou a sua Personalidade para salvação do mundo,
parando no limiar do Nirvana, o estado de pureza.
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Tens agora o conhecimento a respeito dos dois Caminhos.
Chegará o momento em que terás de escolher, ó de Alma ansiosa, quando tiveres
chegado ao fim e passado as sete portas. A tua mente está lúcida. Já não estás
preso a pensamentos ilusórios, porque aprendeste tudo. Sem véu está ante ti a
Verdade, e fita-te gravemente. Diz ela:
“Doces são os frutos do descanso e da libertação por
causa da Personalidade; porém, mais doces ainda os frutos do dever longo e
amargo; sim, da renúncia por amor aos outros, aos homens que sofrem”.
Aquele que se converte em Pratyeka-Buda só presta
obediência à sua Personalidade.
O Bodhisattva que ganhou a batalha, que tem o prêmio
na mão, mas exclama, na sua divina compaixão:
“Por amor aos outros abandono esta grande recompensa”
- realiza a renúncia maior.
Ele é um Salvador do Mundo.
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Repara! A meta da felicidade e o longo Caminho da dor
estão no extremo fim. Podes escolher um ou outro, ó aspirante à tristeza,
através dos ciclos que hão de vir!
Om vairapani hum
TERCEIRO FRAGMENTO
AS SETE PORTAS
UPADHYA (96), a escola está feita. Anseio pela
sabedoria. Rasgaste já o véu que escondia o caminho secreto e ensinaste o Yana
(97) superior. O teu servo aqui está, pronto para que o guies.
Está bem, Shravaka (98). Prepara-te, porque terás de
seguir sozinho, O mestre só pode apontar a direção. O caminho é um para todos,
o meio de chegar à meta deve variar de peregrino para peregrino.
Qual é que vais escolher, ó de coração indômito? O
Samtan (99) da doutrina dos olhos, o quádruplo Dhyana, ou abrirás caminho
através das Paramitas (100), seis em número, nobres portas da virtude
conduzindo a Bodhi e a Prajna, sétimo passo da sabedoria?
O caminho árduo do quádruplo Dhyana ondula montanha
acima. Três vezes grande é aquele que chega ao píncaro altíssimo.
As alturas de Paramita são atravessadas por um caminho
ainda mais íngreme. Tens de forçar o teu caminho através de sete portas, sete
fortalezas guardadas por poderes cruéis e ardilosos - paixões encarnadas.
Anima-te, discípulo; tem sempre presente o preceito
áureo. Uma vez passada a porta Srotapatti (101) “aquele que entrou para o rio”
cujo pé foi posto sobre o leito do rio nirvânico nesta vida ou em qualquer vida
futura, tem apenas diante dele mais sete nascimentos, ó homem de vontade de
ferro.
Repara. Que vês tu diante dos teus olhos, ó aspirante
à sabedoria divina?
“O manto da escuridão cobre a profundeza da matéria;
nas suas dobras me debato. Aprofunda-se, Senhor, à medida que para ele olho; um
gesto da tua mão o desfaz. Mexe-se uma sombra, arrastando-se como as dobras
coleantes da serpente... Cresce, alastra-se, e desaparece na escuridão”.
É a sombra de ti próprio fora do Caminho, caindo sobre
a escuridão dos teus pecados.
“Sim, Senhor, vejo o Caminho; o seu princípio fincado
no lodo, o seu cimo perdido na nirvânica luz gloriosa: e agora vejo os portais
cada vez mais estreitos na estrada árdua e espinhosa para Jnana” (102).
Vês bem, Lanu. Esses portais levam o aspirante a
atravessar o rio para a outra margem (103). Cada portal tem uma chave de ouro
que abre a sua porta; e essas chaves são:
1. Dana, a chave da caridade e
do amor imortal.
2. Shila, a chave da harmonia
nas palavras e nos atos, a chave que contrabalança a causa e o efeito, não
deixando mais espaço à ação cármica.
3. Kshanti, a paciência suave,
que nada pode alterar.
4. Vairagya, a indiferença ao
prazer e à dor, a ilusão vencida, só a verdade vista.
5. Virya, a energia indômita
que abre o seu caminho para a verdade suprema, erguendo-se acima das mentiras terrenas.
6. Dhyana, cuja porta de ouro,
uma vez aberta, leva o Naljor (104) para o reino de Sat, o eterno, e para a sua
contemplação sem fim.
7. Prajna, cuja chave faz de um
homem um Deus, criando-o um Bodhisattva, filho dos Dhyanis.
Tais são as chaves de ouro para esses portais.
Antes que te possas acercar do último, ó tecedor da
tua liberdade, tens de possuir estas Paramitas da perfeição - as virtudes
transcendentais em número de seis e dez - por esse longo caminho.
Porque, ó discípulo, antes que estivesses apto a
encontrar o teu Mestre frente a frente, o teu Senhor luz a luz, que foi que te
disseram?
Antes que te possas acercar da porta mais próxima tens
de aprender a separar o teu corpo do teu espírito, e a viver no eterno. Para
isto, tens de viver e respirar em tudo, como tudo que vês respira em ti;
sentir-te existir em todas coisas, e todas as coisas em ti.
Não deixarás os teus sentidos fazer do teu espírito
campo para o seu recreio.
Não separarás o teu ser do Ser, e do resto, mas
fundirás o oceano na gota de água, e a gota de água no oceano.
Assim estarás em acordo com tudo quanto vive; ama os
homens como se eles fossem os teus condiscípulos, discípulos do mesmo Mestre,
filhos da mesma boa mãe.
Professores há muitos; a Alma-Mestra (105) é uma,
Alaya, a Alma Universal. Vive nesse Mestre como o seu raio em ti. Vive nos teus
semelhantes como eles nela.
Antes que estejas no limiar do Caminho; antes que
entres pela primeira porta, tens de fundir os dois em um e sacrificar o pessoal
à Personalidade impessoal, e assim destruir o caminho entre as duas -
Antahkarana (106).
Tens de estar pronto para responder a Dharma, a lei
austera, cuja voz te perguntará ao teu primeiro passo, ao teu passo inicial.
“Obedeceste a todas as regras, ó de altas esperanças?
“Puseste o teu coração e a tua mente de acordo com a
grande mente e o grande coração de toda a humanidade? Porque, como a voz sonora
do grande rio, na qual todos os sons têm o seu eco (107), assim deve o coração
daquele que queira entrar para o rio vibrar em resposta a cada suspiro e a cada
pensamento de tudo quanto vive e respira”.
Os discípulos podem ser comparados a cordas da vina
que produz eco nas almas; a humanidade, à sua caixa de ressonância; a mão que a
vibra, à respiração melodiosa da Grande Alma do Mundo. A corda que não vibra ao
toque o Mestre, em harmonia suave com todas as outras, quebra-se e é deitada
fora. Assim as mentes coletivas dos Lanu-Shravakas. Têm de ser afinadas para
vibrar de acordo com o espírito do Upadhya - uno com a Super-Alma - ou se quebrará.
Assim fazem os irmãos da sombra - os assassinos das
suas Almas, a horrível seita dos Dad-Dugpa (108).
Puseste o teu ser de acordo com a grande dor da
humanidade, ó candidato à luz?
Fizeste assim?... Podes entrar. Antes, porém, que dês
um passo no duro caminho da tristeza, é bom que aprendas quais são os perigos
da estrada.
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Armado com a chave da caridade, do amor e da terna
misericórdia, podes estar tranqüilo ante a porta de Dana, a porta que fica à
entrada do Caminho.
Vê, ó ditoso peregrino! O portal que tens diante de ti
é alto e largo, parece de fácil acesso. A estrada que o atravessa é reta, suave
e relvada. É como uma clareira cheia de sol no meio da floresta escura e funda,
um lugar na terra refletindo o paraíso de Amitabha (109). Ali rouxinóis de
esperança e aves de penas radiosas cantam em bosques verdejantes, trilando
triunfos aos peregrinos sem receio. Cantam as cinco virtudes do Bodhisattva, a
fonte quíntupla do poder do Bodhi, e dos sete degraus no conhecimento.
Passa, segue para diante!. Trouxeste a chave: estás
salvo.
Para a segunda porta a entrada é verde também, mas é
íngreme e serpenteia montanha acima - sim, até ao cimo rochoso da montanha.
Névoas cinzentas cobrirão o seu píncaro rude e pedregoso, e para além será tudo
escuridão. À medida que avança, o cântico da esperança soa cada vez mais débil
no coração do peregrino. O arrepio da dúvida atinge-o; os seus passos tornam-se
mais incertos.
Acautela-te com isto, ó candidato; acautela-te contra
o medo que, como as asas negras e silenciosas do morcego noturno, se alastra
entre o luar da tua Alma e a tua grande meta que surge na distância, muito
longe ainda.
O medo, ó discípulo, mata a vontade e demora a ação.
Se é falho da virtude Shila, o peregrino tropeça, e pedras cármicas ferem-lhe
os pés pelo caminho pedregoso.
Pisa com segurança, ó candidato. Banha a tua alma na
essência de Kshanti; porque te acercas agora do portal que tem esse nome, a
porta da fortaleza e da paciência.
Não feches os olhos, nem percas de vista Dorje (110);
as setas de Mara atingem sempre o homem que não chegou ao Vairagya (111).
Não tremas. Sob o hálito do medo enferruja a chave de
Kshanti; a chave ferrugenta já não pode abrir.
Quanto mais avançares, mais e mais serão os perigos
que cercarão os teus passos. O caminho que segue para diante é iluminado por
uma chama - a luz da audácia ardendo no coração. Quanto mais ousares, mais
conseguirás. Quanto mais temeres, mais a luz esmorecerá - e só ela te pode
guiar. Porque como o último raio do sol no píncaro do alto monte é seguido pela
noite escura quando cessa, assim é a luz do coração. Quando se apaga, uma
sombra negra e ameaçadora cairá do teu coração sobre o Caminho, e prenderá os teus
pés pávidos no chão.
Acautela-te, discípulo, com essa sombra letal. Nenhuma
luz que brilhe do Espírito pode dispersar a escuridão da Alma inferior, a não
ser que todo o pensamento egoísta de lá tenha fugido, e que o peregrino diga:
“Abdiquei deste corpo que passa; destruí a causa; as sombras, meros efeitos,
não podem mais subsistir”. Porque teve lugar agora a última grande batalha, a
guerra final entre o ser superior e o inferior. Vê, o próprio campo da batalha
se engolfou na grande guerra, e deixou de existir.
Mas, uma vez passada a porta de Kshanti, está dado o
terceiro passo. O teu corpo é teu escravo. Prepara-te agora para a quarta
porta, a porta das tentações que enleiam o homem interior.
Antes que possas acercar-te dessa meta, antes que a
tua mão se erga para levantar o fecho da quarta porta, deves ter dominado todas
as alterações mentais em ti, e matado o exército das sensações-pensamentos que,
sutis e insidiosas, se introduzem, sem que tu queiras, no sacrário luzente da
Alma.
Se não queres que elas te matem, deves tornar
inofensivas as tuas criações, os filhos dos teus pensamentos, invisíveis,
impalpáveis, que enxameiam em torno à humanidade, prole e herdeiros do homem e
das suas presas terrestres. Tens de estudar o vácuo do aparentemente cheio, o
cheio do aparentemente vazio. Ó aspirante intemerato, olha bem para dentro do
poço do teu coração, e responde. Conheces bem os poderes da Personalidade, ó
observador das sombras externas?
Se os não conheces, está perdido.
Porque, no quarto caminho, a mais leve brisa da paixão
ou do desejo fará tremer a luz firme nos muros brancos e puros da Alma. A mais
pequena onda de ânsia ou de saudade pelos dons ilusórios de Maya, ao passares
por Antahkarana - o caminho que há entre o teu Espírito e a tua Personalidade,
a estrada-real das sensações, as despertadoras de Ahamkara (112) - um
pensamento rápido como a luz do relâmpago far-te-á perder os teus três prêmios
- os três prêmios que ganhaste. Aprende que no Eterno não há mudança.
“Abandona para sempre as oito cruéis angústias; se
não, por certo que não chegaste à sabedoria, nem ainda à libertação”, diz o
grande Senhor, o Tathagata da perfeição, “aquele que seguiu as passadas dos
seus predecessores (113).
Austera e exigente é a virtude de Vairagya. Se queres
possuir o seu caminho, tens de ter a tua mente, as tuas percepções mais do que
nunca livres da ação mortal.
Tens de te saturar do puro Alaya, de te identificar
com o pensamento da alma da Natureza. Unificado com ele és invencível; separado
dele, torna-te o campo de recreio de Samvritti (114), origem de todas as
ilusões do mundo.
Tudo é transitório no homem, salvo a pura e clara
essência do Alaya. O homem é o seu raio cristalino; por dentro um raio de luz
imaculada, uma forma de barro material na superfície inferior. Esse raio é o
teu guia de vida e a tua Personalidade verdadeira, a sentinela e o pensador
silencioso, a vítima do teu ser inferior. A tua Alma não pode ser ferida senão
através do teu corpo pecador; domina e rege os dois e estarás salvo quando
estiveres cruzando as proximidades da Porta do Equilíbrio.
Anima-te, audaz peregrino, para a outra margem. Não
dês ouvidos ao segredar das hostes de Mara; afasta os tentadores, esses
espíritos de má índole, os Lhamayn (115) no espaço infinito.
Mantém-te firme! Acerca-te agora do portal médio, da
porta da dor, com as suas dez mil armadilhas.
Domina os teus pensamentos, ó ansioso pela perfeição,
se queres atravessar o limiar dela.
Domina a tua alma, ó ansioso pelas verdades eternas,
se queres chegar à meta.
Concentra o olhar da tua alma na luz única e pura, na
luz que nada afeta, e serve-te da tua chave de ouro.
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O árduo trabalho está feito, a tua tarefa quase finda.
O grande abismo, que se abria para te tragar, está quase passado.
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Atravessaste a vala que circula a porta das paixões
humanas. Venceste já a Mara e à sua horda furiosa.
Tiraste a impureza do teu coração e sangraste-o de
desejos impuros. Mas, ó combatente glorioso, a tua tarefa ainda não está no
fim. Constrói alto, Lanu, o muro que há de defender a tua Ilha Sagrada (116), o
dique que protegerá o teu espírito do orgulho e do contentamento ao pensares
no teu grande feito.
Um sentimento de orgulho macularia a tua obra. Sim:
ergue forte o muro, não vá o impulso feroz das ondas em guerra, que sobem e
batem na sua costa, vindas do grande Mundo do oceano de Maya, engolfar o
peregrino e a ilha; - sim, no próprio momento da vitória.
A tua “ilha” é a corça, os teus pensamentos os galgos
que cansam e perseguem o seu avanço até ao rio da vida. Ai da corça que é
atingida pelos galgos malignos antes que chegue ao vale do refúgio - Jnana-Marga
(117), “o caminho do puro conhecimento”.
Antes que te possas estabelecer em JnanaMarga e
chamar-lhe teu, a tua Alma tem de se tornar como o fruto maduro da mangueira:
mole e doce como a sua polpa dourada para as angústias dos outros, duro como o
caroço desse fruto para as tuas próprias dores e angústias, ó triunfador da
alegria e da tristeza.
Torna a tua Alma dura contra as armadilhas da tua
personalidade; faze com que ela mereça o nome de Alma de Diamante.
Porque, como o diamante enterrado fundo no coração
vivo da terra não pode refletir as luzes terrenas, assim são a tua mente e a
tua Alma; imersos no Jnana-Marga, nada devem refletir do meio ilusório de Maya.
Quando chegares a esse estado, os portais que tens de
vencer no teu caminho abrem de par em par as suas portas, para que passes e os
poderes maiores da natureza não têm força para te embargar o passo. Serás dono
do sétuplo caminho: mas só então o serás, ó candidato a provas indizíveis.
Até ali, espera-te uma tarefa muito mais difícil: tens
de te sentir todo pensamento, e contudo exilar da tua alma todos os
pensamentos.
Tens de chegar àquela fixidez de espírito em que
nenhuma brisa, por mais que cresça, pode soprar um pensamento material para
dentro dele. Assim purificado, o sacrário deve ficar vazio de toda a ação, som
ou luz da terra; assim como a borboleta, atingida pela geada, cai morta no
limiar - assim todos os pensamentos materiais devem cair mortos ante o tempo.
Vê que está escrito:
“Antes que a chama dourada possa arder com um brilho firme,
deve a lâmpada estar guardada num lugar livre de toda a aragem”. Exposta à
brisa volúvel, a chama tremerá, e, tremendo, lançará sombras enganosas, negras,
e sempre variantes, sobre o sacrário branco da Alma.
E então, ó perseguidor da verdade, a alma da tua mente
tornar-se-á como um elefante louco, que se enfurece na floresta. Tomando as
árvores por inimigos vivos, morre ao tentar matar as sombras sempre incertas
bailando no muro dos rochedos inundados de sol.
Acautela-te, não vá a tua alma, ao cuidar da tua
Personalidade, perder pé no terreno do conhecimento Deva.
Acautela-te, não vá a tua Alma, ao esquecer a
Personalidade, perder o seu domínio sobre o seu espírito trêmulo, perdendo
assim o justo prêmio das suas conquistas.
Acautela-te contra a mudança, porque a mudança é o teu
grande inimigo. A mudança lutará contigo, afastar-te-á, atirar-te-á para fora
do caminho que trilhas, para dentro de pântanos viscosos de dúvida.
Prepara-te e acautela-te a tempo. Se experimentaste e
falhaste, ó lutador indômito, não percas, porém, a coragem: continua a lutar, e
volta ao embate repetidamente.
O guerreiro destemido, ainda que o sangue da sua vida
lhe escorra das feridas abertas, continuará a atacar o inimigo, expulsálo-á do
seu forte, vencê-lo-á mesmo, antes que ele próprio expire. Agi, pois, todos vós
que falhais e que sofreis, como esse soldado; e do forte da vossa Alma expulsai
todos os vossos inimigos - a ambição, a cólera, o ódio, até a sombra do desejo
- mesmo quando tiverdes falhado...
Lembra-te, tu que lutas pela libertação humana (118),
que cada falência é um triunfo, e cada tentativa sincera a seu tempo recebe o
seu prêmio. Os santos germes que brotam e crescem invisíveis na Alma do
discípulo, dobram como juncos mas não quebram, nem podem eles perder-se. Mas
quando a hora soa, desabrocham (119).
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Mas se vieste preparado, então não temas nada.
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Daqui em diante é claro o teu caminho, que vai direto
à porta de Virya, o quinto dos sete portais. Estás agora no caminho que conduz
ao porto do Dhyana, o sexto portal, o portal Bodhi.
A porta do Dhyana é como um vaso de alabastro, branco
e transparente; dentro dele arde uma luz firme e dourada, a chama de Prajna,
que de Atman irradia.
Esse vaso és tu.
Afasta-te dos objetos dos sentidos, seguiste pelo
caminho da visão, pelo caminho da audição, e estás agora na luz do
conhecimento. Chegaste agora ao estado de Titiksha (120).
Ó Naljor, estás salvo.
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Aprende, vencedor dos pecados, que uma vez que um
Sowani (121) tenha atravessado o sétimo caminho, toda a natureza estremece de
alegria e se sente submissa. A estrela prateada eis que cintila esta nova às
flores da noite, o riacho murmura esse conto às pedras; as ondas escuras do
oceano o cantam aos rochedos cheios de espuma, as brisas perfumadas cantam-no
aos vales, e os pinheiros altivos segredam misteriosamente: “Surgiu um Mestre,
um Mestre do Dia” (122).
Ele se ergue agora como uma coluna branca ao ocidente,
sobre cuja fronte o sol nascente do pensamento eterno derrama as suas primeiras
ondas gloriosas. O seu espírito, como um oceano ilimitado em calmaria,
alastra-se no espaço sem praias. Ele tem a vida e a morte na sua mão poderosa.
Sim, ele é poderoso. O poder vivo tornado livre nele,
esse poder que é Ele próprio, pode erguer o tabernáculo da ilusão muito acima
dos Deuses, a cima dos grandes Brahm e Indra. É agora, por certo, que ele
conseguirá o seu grande prêmio!
Não usará ele os dons, que isso confere, para seu
descanso e felicidade, para seu proveito e glória tão bem ganhos - ele o
subjugador da grande ilusão?
Não, ó candidato à ciência secreta da natureza! Se
quiseres seguir os passos do santo Tathagata, esses dons e poderes não são para
ti próprio. Irás assim por um dique às águas nascidas em Someru (123)? Irás
desviar o rio para teu serviço, ou fazê-lo subir até à sua nascente, pelos
cerros dos ciclos?
Se quiseres que esse rio de conhecimento bem ganho, de
sabedoria de divina origem, fique uma corrente pura, não deves deixar que ele
se torne um lago estagnado.
Aprende: se quiseres tornar-te cooperador de Amitabha,
a Idade Ilimitada, então deves derramar a luz adquirida, como os dois
Bodhisattvas (124), sobre a extensão de todos os três mundos (125).
Aprende que a corrente de conhecimento sobre-humano e
a sabedoria Deva, que adquiriste, deve, de ti, o canal de Alaya, ser derramada
para outro leito.
Aprende, ó Naljor, tu do caminho secreto, que as suas
águas puras devem ser empregadas para tornar mais doces as ondas amargas do
oceano - esse grande mar de sofrimento formado pelas lágrimas dos homens.
Ai de ti! Uma vez que te tornaste como a estrela fixa
no alto céu, esse claro orbe celeste deve, das profundezas do espaço, brilhar
para todos, menos para si mesmo; dar luz a todos, e a nenhum tirá-la.
Ai de ti! Uma vez tornado como a neve pura nos vales das
montanhas, fria e insensível ao tato, quente e protetora para a semente que
dorme fundo sob o seu seio - agora é essa neve que deve receber a geada
mordente, os vendavais do norte, protegendo assim do seu dente fino e cruel a
terra que contém a colheita prometida, a colheita que dará pão aos que têm
fome.
Por ti próprio condenado a viver através de Kalpas
futuros sem que os homens te vejam ou te agradeçam; apertado como uma pedra
contra inúmeras outras que formam o “Muro da Guarda” (126), tal é o teu futuro
se passares a sétima porta. Construído pelas mãos de muitos Mestres da
Compaixão, erguido pelas suas torturas, cimentado pelo seu sangue, ele proteje
a humanidade, desde que o homem é homem, livrando-a de novas e maiores
angústias e tristezas.
O homem, porém, não o vê, não o quer ver, nem quer dar
ouvidos à palavra da Sabedoria, porque não a conhece.
Mas tu ouviste-a, tu sabes tudo, ó de Alma ansiosa e
imaculada... e tens de escolher. Escuta ainda.
No Caminho de Sowan, ó Srotapatti, segues seguro. Sim,
nesse Marga, onde apenas a escuridão vem ao encontro do peregrino cansado,
onde, rasgadas por espinhos, as mãos gotejam sangue, os pés são rasgados por
pedras agudas e duras, e Mara emprega as suas armas mais fortes - para além
dele, imediatamente há um grande prêmio.
Calmo e impassível, o peregrino vai até ao rio que
conduz ao Nirvana. Ele sabe que quanto mais os seus pés sangrarem, mais lavado
e limpo ele próprio ficará. Ele sabe bem que depois de sete breves e
transitoriais nascenças, o Nirvana lhe pertencera...
Tal é o caminho de Dhyana, o porto do iogue, a meta
sagrada que o Srotapattis buscam.
Não é assim quando atravessou e conquistou o caminho
Arhat (127).
Ali Klesha (128) é destruído para sempre, e as raízes
de Tanha (129) arrancadas; mas pára, discípulo... escuta uma palavra ainda.
Podes tu destruir a divina compaixão? A compaixão não é um atributo. É a Lei
das leis - a harmonia eterna, o próprio Ser de A1aya, uma essência universal
sem praias, a luz da justiça eterna, o acordo de tudo, a lei do eterno amor.
Quanto mais com ela te unificares, fundindo o teu ser
no seu ser, tanto mais a tua Alma se unirá àquilo que é, tanto mais te tornarás
a Compaixão Absoluta (130).
Tal é o caminho Arya, caminho dos Budas da perfeição.
Mas o que significam os livros sagrados que te fazem
dizer:
“Om! Creio que nem todos os Arhats obtêm o doce gozo
do caminho nirvânico.
“Om! Creio que no Nirvanadharma não entram todos os
Budas” (131).
Sim, no caminho de Arya já não és um Srotapatti, és um
Bodhisattva (132). Atravessaste o rio. É certo que tens direito à veste do
Dharmakaya; mas um Samhbogakaya é maior do que um Nirvani, e maior ainda é um
Nirmanakaya - o Buda da Compaixão (133).
Inclina agora a tua fronte e escuta bem, ó Bodhisattva
- a compaixão fala e diz:
“Pode haver felicidade quando tudo quanto vive tem de
sofrer? Quererás salvar-te ouvindo todo o mundo chorar?”
Agora ouviste o que se disse:
Chegarás ao sétimo degrau e atravessarás a porta do
conhecimento final, mas apenas para tomares a dor por esposa - se queres ser
Tathagata, seguir os passos do teu predecessor, conservar-te altruísta até ao
fim sem fim.
Estás iluminado - escolhe o teu caminho.
............................................................................................
Olha a luz suave que inunda o céu oriental. Céu e
terra unem-se em gestos de adoração. E dos poderes quadruplamente manifestados
sobe um cântico de amor, tanto do fogo que brilha como da água que corre, da
terra perfumada e do vento que passa.
Escuta!... do grande e insondável vórtice daquela luz
dourada em que o Vencedor se banha, toda a voz sem palavras da natureza se
ergue para em mil tons proclamar:
Saúdo-vos, ó homens de Myalba. (134).
Um peregrino regressou da “outra margem”
Nasceu um novo Arhan. (135).
Paz a todos os seres. (136).
Notas
1. A palavra páli
Iddhi eqüivale ao Siddhis sânscrito, as faculdades “psíquicas” os poderes
anormais do homem. Há duas espécies de Siddhis - um grupo que compreende as
energias inferiores, grosseiras, “psíquicas” e mentais, ao passo que o outro
exige o mais alto cultivo das capacidades espirituais. Diz Krishna no Shrimad
Bhagavat:
“Aquele que está ocupado na execução da Ioga, que
venceu os seus sentidos e concentrou o seu espírito em mim (Krishna) - a tais
iogues como esse estão todos os Siddhis prontos a servir.” .
2. A voz sem som,
ou a “voz do silêncio”. Literalmente, isto devia talvez traduzir-se “voz no som
espiritual”, visto que Nada é o equivalente sânscrito do termo Senzar. .
3. Dharana é a
concentração intensa e perfeita do espírito sobre qualquer objeto interior,
acompanhada da abstração completa de tudo quanto pertença ao universo exterior,
ou mundo dos sentidos. .
4. O “grande
Mestre” é o termo que os chelas empregam para designar a Personalidade
Superior. Equivale ao Avalokiteshvara, e é o mesmo que o Adi-Buda dos
ocultistas do budismo, que o Atmandos Brâmanes, e que o Christos dos antigos
Gnósticos. .
5. “Alma” é aqui
empregado para designar o Eu ou Manas humano, a que na nossa oculta divisão
setenária se chama a Alma humana, para distingui-la das Almas espirituais e
animais. .
6. Maha-Maya, a
grande ilusão, o universo objetivo. .
7. Sakkayaditthi,
a ilusão da personalidade. .
8. Attavada, a
heresia da crença na Alma, ou antes, na separação da Alma ou Personalidade do
Ser universal, uno e infinito. .
9. O Tattvajnani
é o conhecedor ou discriminador dos princípios na natureza e no homem; e
Atmajnani é o conhecedor de Atman ou da Personalidade Única universal. .
10. Kala
Hamsa, a ave ou cisne. Diz o Nadavindupanishat (Rig Veda) traduzido pela
Sociedade Teosófica de Kumbakonam - “Considera-se a sílaba A como a asa direita
da ave Amsa, U a asa esquerda, M a cauda, e o Ardhamatra (meiometro) diz-se
ser a sua cabeça”. .
11. A
eternidade tem para os orientais um sentido diverso do que tem para nós.
Representa em geral os 96 anos ou idade de Brama, a duração de um Mahakalpa, ou
seja, um período de 311.040.000.000.000 anos. .
12. Diz o
citado Nadavindu, “Um iogue que cavalga o Hamsa (assim contempla sobre o AUM)
não é afetado por influências cármicas ou efeitos de pecados”. .
13. Abandona
a vida da personalidade física se queres viver em Espírito. .
14. Os três
estados de consciência, que são: Jagrat, o de vigília; Svapna, o de sonho; e
Sushupti, o estado de sono profundo. Estas três condições iogues conduzem ao
quarto, que é - .
15. O
Turiya, o que está além do estado do sono sem sonhos, um estado de alta
consciência espiritual. .
16. Alguns
místicos orientais indicam sete planos do ser, os sete Lokas ou mundos
espirituais dentro do corpo de Kala Hamsa, o cisne fora do tempo e do espaço,
conversível em o cisne dentro do tempo, quando se torna Brama em vez de Braman.
.
17. O mundo
fenomênico só dos sentidos e da consciência terrena. .
18. A sala
da aprendizagem da época da provação. .
19. A região
astral, o mundo psíquico das percepções super-sensuais e das visões ilusórias -
o mundo dos médiuns. É a grande “serpente astral” de Éliphas Lévi. Nenhuma flor
colhida nesse mundo foi alguma vez trazida para a terra sem que trouxesse a sua
serpente enroscada na haste. É o mundo da grande ilusão. .
20. A região
da plena consciência espiritual, para além da qual já não há perigo para quem
lá chegou. .
21. Ao
Iniciado, que conduz o discípulo, pelos conhecimentos que lhe ministra, à sua
segunda nascença, ou nascença espiritual, chama-se o pai, Guru ou Mestre. .
22. Ajnana é
a ignorância ou não-sabedoria, o contrário do conhecimento, Jnana. .
23. Mara é,
nas religiões exotéricas, um demônio, um Asura, mas na filosofia exotérica é a
personificação da tentação pelos vícios humanos; traduzido literalmente, quer
dizer “aquilo que mata” a alma. É representado como um rei (dos Maras) com uma
coroa onde brilha uma jóia de tal fulgor que cega aqueles que para ela olham, e
esse fulgor representa, é claro, a fascinação que o vício exerce sobre certas
naturezas. .
24. Ilusão.
.
25. O “poder
de fogo” é Kundalini. .
26. A câmara
interior do coração, chamada em sânscrito Brahma-Pura. .
27. O
“Poder” e a “Mãe do Mundo” são nomes dados a Kundalini - um dos poderes
místicos iogues. É o Budi considerado como princípio ativo e não passivo (o que
ele em geral é quando o consideramos como simples veículo ou cofre do espírito
supremo, Atman). É força eletro-espiritual, o poder criador que, quando chamado
à agir, pode tão facilmente matar como criar. .
28. Kechara,
“o que passeia”, ou “anda”, nos céus. Conforme se explica no sexto Adhyaya
dessa rainha das obras místicas, os Jnaneshvari - o corpo do iogue se torna
como que feito de vento; como “uma nuvem de onde nasceram membros” depois do
que - “ele (o iogue) contempla as cousas para além dos mares e das estrelas;
ouve e compreende a linguagem dos Devas (deuses) e percebe o que se está
passando no espírito da formiga”. .
29. A
individualidade superior. .
30. Vina é um
instrumento de corda índio parecido com o alaúde. .
31. Os seis
princípios que constituem o homem; isto acontece quando a personalidade
inferior é destruída e a individualidade íntima se funde e perde no sétimo
espírito (Atman). .
32. O
discípulo torna-se uno com Braman ou Atman. .
33. A forma
astral produzida pelo princípio cármico, o Kama Rupa, ou corpo de desejo. .
34. Manasa
Rupa. Assim como o Kama Rupa se refere ao ser astral ou pessoal. Manasa Rupa se
relaciona com a individualidade, ou Eu reencarnante, cuja consciência no nosso
plano, ou Manas inferior, tem de ser paralisada. .
35. Kundalini,
o poder serpentino ou fogo místico; chama-selhe o poder serpentino ou anelar
por causa do seu progresso ou caminho espiraliforme no corpo do asceta que está
desenvolvendo em si esse poder. É um poder oculto ou foático elétrico e ígneo,
a grande força primitiva que está por dentro de toda a matéria orgânica e
inorgânica. .
36. Este
Caminho é mencionado em todas as obras místicas. Como diz Krishna no
Jnaneshvari: “Quando se contempla este caminho... quer sigamos para o Oriente
em flor, quer para as câmaras do Ocidente, Sem movimento, é portador do arco, é
a viagem nesta estrada. Neste caminho, qualquer que seja o lugar para onde
queiramos ir, esse lugar nos tornamos”. “Tu és o caminho”. - diz-se ao Adepto
Guru, e diz este ao discípulo, depois da Iniciação. “Eu sou a estrada e o
Caminho” - diz um outro Mestre. .
37. O grau
de Adepto - a flor de Boddhisattva. .
38. Tanha -
a vontade de viver, o medo da morte e amor à vida, aquela força ou energia que
causa o renascer. .
39. Os sons
místicos, ou a melodia mística, ouvidos pelo asceta no princípio do seu ciclo
de meditação, chamado Anahatashabda pelos iogues. O Anahaha é o quarto dos
Chakras. .
40. Isto
quer dizer que no sexto estágio de desenvolvimento, que, no sistema oculto, é
Dharana, cada sentido, como faculdade individual tem de ser “morto” (ou
paralisado) neste plano passando a ser, e fundindo-se com o sétimo sentido, o
mais espiritual. .
41. Dharana
é a concentração intensa e perfeita do espírito sobre qualquer objeto interior,
acompanhada da abstração completa de tudo quanto pertença ao universo exterior,
ou mundo dos sentidos. .
42. Cada
estágio de desenvolvimento na Raja Ioga é simbolizado por uma figura geométrica.
Esta é o triângulo sagrado e precede o Dharana. O D é o sinal dos altos chelas,
ao passo que outra espécie de triângulo é o dos altos Iniciados. O “1” é o
símbolo de que Buda falou e que empregou como símbolo da forma incorporada de
Tathagata quando liberta dos três métodos de Prajna. Os estágios preliminar e
inferiores uma vez passados, o discípulo já não vê o D mas sim o -, a
abreviatura do -, o setenário completo. A sua verdadeira forma não é aqui dada
porque é quase certo que seria aproveitada por qualquer charlatão e profanada
no seu uso para fins fraudulentos. .
43. A
estrela que brilha nas alturas é a Estrela da Iniciação. O sinal dos Shaivas,
ou devotos da seita de Shiva, patrono de todos os iogues, é um ponto circular
negro, agora, talvez, símbolo do sol, mas o da Estrela da Iniciação no
ocultismo de outros tempos. .
44. A base
(Upadhi) da chama sempre inatingível, enquanto o asceta está nesta vida. .
45. Dhyana é
o último estágio antes do final, nesta terra, a não ser que nos tornemos pleno
Mahatma. Como já se disse, neste estado o Raja Ioga é ainda espiritualmente
consciente da sua personalidade e da operação dos seus princípios superiores.
Mais um passo, e estará no plano para além do Sétimo, o quarto, segundo certas
escolas. Estas, depois da prática de Pratyahara - uma educação preliminar, para
dominar o espírito e os pensamentos - contam Dharana, Dhyana e Samadhi, e
envolvem os três sob o nome genérico de Sannyama. .
46. Samadhi
é o estado em que o asceta perde a consciência de toda a individualidade,
incluindo a sua. Torna-se o Todo. .
47. Os
quatro modos da verdade são, no budismo do norte: Ku, o sofrimento ou miséria;
Tu, a reunião das tentações; Mu, a destruição delas; e Tau, o Caminho. Os
“cinco impedimentos” são o conhecimento da angústia, a verdade a respeito da
fraqueza humana, restrições opressivas, e a absoluta necessidade de separação
de todas as peias da paixão, e mesmo dos desejos. O “Caminho da salvação” é o
último. .
48. No
portal da reunião está o rei dos Maras, o Maha-Mara, tentando cegar o candidato
com o brilho da sua jóia. .
49. Este é o
quarto dos cinco caminhos do renascer, que conduzem e arrastam todos os seres
humanos para um perpétuo estado de tristeza e de alegria. Esses caminhos não
passam de subdivisões do caminho único, o caminho seguido pelo Carma. .
50. Às duas
escolas da doutrina do Buda, a esotérica e a exotérica, chama-se
respectivamente a doutrina do “coração” e a doutrina dos “olhos”. A
Budhidharma, a religião da sabedoria da China - donde os nomes passaram para o
Tibete - chamou-lhes os homens do Tsung (escola esotérica) e os Kiau (escola
exotérica). A primeira é assim chamada porque é o ensinamento que emanou do
coração do Gautama Buda, ao passo que a doutrina dos olhos foi produto da sua
cabeça ou cérebro. A doutrina do coração também se chama o selo da verdade, ou
o verdadeiro selo, símbolo esse que se encontra encimando quase todas as obras
esotéricas. .
51. A árvore
da sabedoria é o título dado pelos aderentes da Religião da Sabedoria
(Bodhidharma) àqueles que atingiram a altura do conhecimento místico - aos
Adeptos. A Nagarjuna, o fundador da Escola Madhyrnika, chamavam a
“Árvore-Dragão”, sendo o dragão o símbolo da sabedoria e do conhecimento. A
árvore é respeitada porque foi sob a árvore Bodhi (da sabedoria) que Buda
recebeu a sua nascença e esclarecimento, pregou o seu primeiro sermão, e
morreu. .
52. O
Coração Secreto é a doutrina esotérica. .
53. A Alma
de Diamante, Vajrasattva, um título do Buda supremo, Senhor de todos os
mistérios, chamado Vajradhara e Adi-Buda. .
54. Sat, a
única realidade e verdade eterna e absoluta, sendo tudo mais ilusão. .
55. Da
doutrina de Shin-Sien, que ensina que a mente humana é como um espelho que
atrai e reflete todos os átomos de pó, e, como esse espelho, tem de ser cuidada
e limpa todos os dias. Shin-Sien foi o sexto patriarca da China Setentrional,
que ensinou a doutrina esotérica do Bodhidharma. .
56. Os
Budistas do Norte chamam ao Eu reencarnante o Homem Eterno, que se torna, em
união com o seu ser superior, um Buda. .
57. Buda
significa “Iluminado”. .
58. A
fórmula costumeira que precede as escrituras budistas, e significa que o que
segue foi notado de direta tradição oral do Buda e dos Arhats. .
59. A
imortalidade. .
60. Rathapala,
o grande Arhat, assim se dirige a seu pai na lenda chamada Rathapala
Sutrasanne. Mas como todas essas lendas são alegóricas (por exemplo: o pai de
Rathapala tem uma casa com sete portas), compreende-se a reprimenda àqueles que
as aceitam literalmente. .
61. Brâmanes
ascéticos, visitadores de sacrários, sobretudo lugares de banhos sagrados. .
62. Os Eus
reencarnantes. .
63. Doutrina,
lei, dever. .
64. A
sabedoria verdadeira e divina. .
65. A
Personalidade Superior, o sétimo princípio. .
66. Nossos
corpos físicos são chamados sombras, nas escolas místicas. .
67. Buda. .
68. Um
eremita que se retira para as selvas, vivendo numa floresta ao tornar-se iogue.
.
69. Julai é
o nome chinês para Thatagata, título dado ao Buda. .
70. Todas as
tradições do Norte e do Sul concordam em mostrar que Buda saiu da sua solidão
logo que resolveu o problema da vida - isto é, recebeu o esclarecimento
interior - e ensinou publicamente aos homens. .
71. Segundo
o ensinamento esotérico, cada Eu espiritual é um raio de um espírito planetário.
.
72. Às
personalidades, ou corpos físicos, chamam-se sombras, por serem evanescentes. .
73. Esta
mesma reverência popular chama “Budas da Compaixão” àqueles Bodhisattvas que,
tendo chegado ao grau de Arbat (isto é, tendo completado o quarto ou sétimo
Caminho), recusam-se a passar para o estado nirvânico ou “vestir a veste do
Dharmakaya e passar para a outra margem”, visto que então já não poderiam
auxiliar os homens mesmo o pouco que o Carma permite. Preferem continuar
invisivelmente (no espírito, por assim dizer) no mundo, e contribuir para a
salvação humana, influenciando os homens a seguir a boa Lei, isto é, levando-os
para o Caminho da Virtude. É costume entre os exotéricos do budismo do Norte
venerar estes grandes seres como santos e mesmo rezar a eles, como fazem os
gregos e os católicos aos seus santos e padroeiros; mas os ensinamentos
esotéricos não permitem essas orações. Há grande diferença entre as duas
doutrinas. O exotérico laico mal sabe o verdadeiro sentido da palavra
Nirmanakaya - daí a confusão e as explicações insuficientes dos orientalistas.
Por exemplo: Schlagintweit crê que Nirmanakaya significa forma física assumida
pelos Budas quando encarnam na terra - “o menos sublime dos seus invólucros
terrenos” (ver O Budismo no Tibete) - e passa a dar opinião inteiramente falsa
sobre o assunto. A verdadeira doutrina é, porém, esta:
Os três corpos ou formas búdicas são denominados:
I. Nirmanakaya.
II. Sambhogakaya.
III. Dharmakaya.
O primeiro é aquela forma etérea que ele assumiria
quando, abandonando o corpo físico, aparecesse no corpo astral -tendo a mais
todos os conhecimentos de um Adepto. O Bodhisattva desenvolveu-o em si mesmo à
medida que avança no caminho. Tendo chegado à meta e recusado a fruição da
recompensa, permanece na terra como um Adepto; quando morre, em vez de entrar
para o Nirvana, fica no corpo glorioso que para si teceu, invisível à
humanidade não-iniciada, para velar por ela e protegê-la.
Sambhogakaya (literalmente “Corpo de Compensação”) é o
mesmo Nirmanakaya, mas com o brilho adicional de três perfeições, uma das quais
é a obliteração de todas as preocupações terrenas.
O corpo Dharmakaya é o de um Buda completo, isto é,
não é corpo nenhum, mas o sopro ideal; a consciência imersa na consciência
universal, ou a alma despida de todos os atributos.
Uma vez tornado um Dharmakaya, um Adepto ou Buda
abandona toda a possível relação com, ou pensamento ligado a esta terra. Assim,
para poder auxiliar a humanidade, um Adepto que adquiriu o direito ao Nirvana,
“renuncia ao corpo Dharmakaya”, falando misticamente; guarda, do Sambhogakaya,
apenas os grandes e completos conhecimentos, e fica no seu Nirmanakaya. A
escola esotérica ensina que Gautama Buda, com vários dos seus Arhts, é um
Nirmanakaya deste gênero, acima do qual, pela grande renúncia e sacrifício pela
humanidade, não existe ninguém. .
74. A veste
Shangna, do Shangnavesu de Rajagriha, o terceiro grande Arhat, ou patriarca,
segundo a terminologia que os orientalistas adaptam para a hierarquia dos
trinta e três Arhats que espalharam o budismo. “A veste Shangna” significa
metaforicamente a aquisição de sabedoria com que se entra para o Nirvana da
destruição (da personalidade). Literalmente, quer dizer a veste da Iniciação
dos neófitos. Edkins afirma que este tecido de ervas foi trazido para a China
do Tibete na dinastia do Tong. “Quando nasce um Arhan, esta planta encontra-se
crescendo num lugar limpo” - diz a lenda chinesa, assim como a tibetana. .
75. “Praticar
o caminho Paramita” quer dizer tornar-se iogue com o fim de se tornar asceta. .
76. “Amanhã”
quer dizer a renascença ou reencarnação seguinte. .
77. Dos
preceitos da escola Prasanga. .
78. A grande
jornada é o ciclo completo de existências em uma volta. .
79. Siddhis são
as faculdades psíquicas, os poderes anormais do homem. .
80. Migmar
ou Marte, na astrologia tibetana, é simbolizado por um olho. .
81. Lhagpa
ou Mercúrio é simbolizado por uma mão. .
82. Nyima é
o sol na astrologia tibetana. .
83. Buda. .
84. Srotapatti
ou “aquele que entra na corrente do rio” do Nirvana, a não ser que atinja a
meta devido a razões excepcionais, raras vezes poderá atingir o Nirvana em uma
só vida. Em geral diz-se que um chela começa o esforço ascensional em uma vida
e o acaba ou chega à meta apenas na sua sétima nascença depois dessa. .
85. Isto é,
o ser inferior pessoal. .
86. Os
Tirthikas, sectários bramânicos de além dos Himalaias, são chamados infiéis
pelos budistas na terra sagrada, o Tibete, e vice-versa. .
87. O
Tibete. .
88. A visão
ilimitada, ou seja, a visão psíquica, sobre-humana. Diz-se que um Arhan vê e
sabe tudo, perto ou longe que esteja. .
89. A veste
Shangna, do Shangnavesu de Rajagriha, o terceiro grande Arhat, ou patriarca,
segundo a terminologia que os orientalistas adaptam para a hierarquia dos
trinta e três Arhats que espalharam o budismo. “A veste Shangna” significa
metaforicamente a aquisição de sabedoria com que se entra para o Nirvana da
destruição (da personalidade). Literalmente, quer dizer a veste da Iniciação dos
neófitos. Edkins afirma que este tecido de ervas foi trazido para a China do
Tibete na dinastia do Tong. “Quando nasce um Arhan, esta planta encontra-se
crescendo num lugar limpo” - diz a lenda chinesa, assim como a tibetana. .
90. O vivo é
o Eu superior e imortal e o morto o Eu inferior e pessoal. .
91. Esta
mesma reverência popular chama “Budas da Compaixão” àqueles Bodhisattvas que,
tendo chegado ao grau de Arbat (isto é, tendo completado o quarto ou sétimo
Caminho), recusam-se a passar para o estado nirvânico ou “vestir a veste do
Dharmakaya e passar para a outra margem”, visto que então já não poderiam
auxiliar os homens mesmo o pouco que o Carma permite. Preferem continuar
invisivelmente (no espírito, por assim dizer) no mundo, e contribuir para a salvação
humana, influenciando os homens a seguir a boa Lei, isto é, levando-os para o
Caminho da Virtude. É costume entre os exotéricos do budismo do Norte venerar
estes grandes seres como santos e mesmo rezar a eles, como fazem os gregos e os
católicos aos seus santos e padroeiros; mas os ensinamentos esotéricos não
permitem essas orações. Há grande diferença entre as duas doutrinas. O
exotérico laico mal sabe o verdadeiro sentido da palavra Nirmanakaya - daí a
confusão e as explicações insuficientes dos orientalistas. Por exemplo:
Schlagintweit crê que Nirmanakaya significa forma física assumida pelos Budas
quando encarnam na terra - “o menos sublime dos seus invólucros terrenos” (ver
O Budismo no Tibete) - e passa a dar opinião inteiramente falsa sobre o
assunto. A verdadeira doutrina é, porém, esta:
Os três corpos ou formas búdicas são denominados:
I. Nirmanakaya.
II. Sambhogakaya.
III. Dharmakaya.
O primeiro é aquela forma etérea que ele assumiria
quando, abandonando o corpo físico, aparecesse no corpo astral -tendo a mais
todos os conhecimentos de um Adepto. O Bodhisattva desenvolveu-o em si mesmo à
medida que avança no caminho. Tendo chegado à meta e recusado a fruição da
recompensa, permanece na terra como um Adepto; quando morre, em vez de entrar para
o Nirvana, fica no corpo glorioso que para si teceu, invisível à humanidade
não-iniciada, para velar por ela e protegê-la.
Sambhogakaya (literalmente “Corpo de Compensação”) é o
mesmo Nirmanakaya, mas com o brilho adicional de três perfeições, uma das quais
é a obliteração de todas as preocupações terrenas.
O corpo Dharmakaya é o de um Buda completo, isto é,
não é corpo nenhum, mas o sopro ideal; a consciência imersa na consciência
universal, ou a alma despida de todos os atributos.
Uma vez tornado um Dharmakaya, um Adepto ou Buda
abandona toda a possível relação com, ou pensamento ligado a esta terra. Assim,
para poder auxiliar a humanidade, um Adepto que adquiriu o direito ao Nirvana,
“renuncia ao corpo Dharmakaya”, falando misticamente; guarda, do Sambhogakaya,
apenas os grandes e completos conhecimentos, e fica no seu Nirmanakaya. A
escola esotérica ensina que Gautama Buda, com vários dos seus Arhts, é um
Nirmanakaya deste gênero, acima do qual, pela grande renúncia e sacrifício pela
humanidade, não existe ninguém. .
92. A vida
secreta é a vida como Nirmanakaya. .
93. O
Caminho Aberto é o que é ensinado ao lado, é o exotérico e geralmente aceito,
ao passo que o Caminho Secreto é um cuja natureza é explicada na Iniciação. .
94. Os
homens ignorantes das verdades e sabedoria esotéricas, são chamados de os
mortos que vivem. .
95. O corpo
Dharmakaya é o de um Buda completo, isto é, não é corpo nenhum, mas o sopro
ideal; a consciência imersa na consciência universal, ou a alma despida de
todos os atributos.
Uma vez tornado um Dharmakaya, um Adepto ou Buda
abandona toda a possível relação com, ou pensamento ligado a esta terra. Assim,
para poder auxiliar a humanidade, um Adepto que adquiriu o direito ao Nirvana,
“renuncia ao corpo Dharmakaya”, falando misticamente; guarda, do Sambhogakaya,
apenas os grandes e completos conhecimentos, e fica no seu Nirmanakaya. A
escola esotérica ensina que Gautama Buda, com vários dos seus Arhts, é um
Nirmanakaya deste gênero, acima do qual, pela grande renúncia e sacrifício pela
humanidade, não existe ninguém. .
96. Upadhya
é um preceptor espiritual, um Guru. Os budistas do Norte escolhem-no em geral
entre os Naljor, homens santos, eruditos na Gotrabhujnana e no
Jnana-darshana-shuddi, professores da sabedoria secreta. .
97. Yana significa
veículo: assim, Mahayana é o Grande Veículo e Hinayana o Veículo Menor, nomes
estes de duas escolas de ciência religiosa e filosófica no budismo do Norte. .
98. Shravaka
- um ouvinte, ou estudante que segue as instruções religiosas. Do radical Shru.
Quando da teoria passa à prática ou realização do ascetismo. torna-se um
Shramana, exercedor de Shrama, ação. Como mostra Hardy, as duas formas
correspondem às palavras gregas akoustikoi e asketai. .
99. O Samtan
tibetano é o mesmo que o sânscrito Dyana, ou estado de meditação, do qual há
quatro graus. .
100. Paramitas,
as seis virtudes transcendentais: caridade, moralidade, paciência, energia,
contemplação e sabedoria. Para os sacerdotes há dez, as seis apontadas, e, além
delas, o emprego dos meios justos, a ciência, votos religiosos e força de
propósito (O Budismo Chinês, da Eitel). .
101. Srotapatti
- literalmente, “aquele que entrou para o rio”, que conduz ao oceano nirvânico.
Este nome indica o primeiro Caminho. O nome do segundo é o Caminho do Sakridagamin,
“aquele que receberá a nascença (só) uma vez mais”. Ao terceiro chama-se aquele
do Anagamin, “aquele que não tornará a ser reencarnado”, a não ser que assim
deseje para auxiliar a humanidade. O quarto Caminho é conhecido como o do Rahat
ou Arhat. É este o mais alto. Um Arhat vê o Nirvana durante a sua vida. Para
ele não é um estado para depois da morte: é o seu Samadhi, durante o qual
experimenta toda a felicidade do Nirvana. (Para se ver quão pouca confiança se
pode ter nos orientalistas no que diz respeito à exatidão de palavras e do seu
sentido, basta ver o que disseram três pretensas autoridades nesta matéria.
Assim, os quatro nomes que citamos são dados por R. Spence Hardy como sendo: 1.
Sowan; 2. Sakradagami; 3. Anagami; e 4. Arya. Pelo Rev. J. Edkins são dados
como: 1. Srotapanna; 2. Sagardagam; 3. Anaganim; e 4. Arhan. Schlagintweit
escreve-os de maneira diversa, e cada um desses orientalistas dá a essas
palavras sentidos diferentes.) .
102. Conhecimento,
sabedoria, ciência. .
103. “Chegar à
margem” é, para os budistas do Norte, sinônimo de atingir o Nirvana pelo
exercício das seis e dez Paramitas (virtudes). .
104. Um homem
sem pecado, um santo. (Upadhya é um preceptor espiritual, um Guru. Os budistas
do Norte escolhem-no em geral entre os Naljor, homens santos, eruditos na
Gotrabhujnana e no Jnana-darshana-shuddi, professores da sabedoria secreta). .
105. A
Alma-Mestra é Alaya, a Alma Universal ou Atman de que cada homem tem um raio em
si, e com que se supõe que é capaz de se identificar e se fundir. .
106. Antahkarana
é o Manas inferior, o caminho de comunicação ou comunhão entre a personalidade
e o Manas superior ou Alma Humana. Na morte se destrói como caminho ou meio de
comunicação, e os seus restos sobrevivem sob uma forma, como o Kamarupa - a
casca. .
107. Os
budistas do Norte, e, de resto, todos os chineses, sentem no rugido fundo de
alguns rios grandes e sagrados a nota mestra da natureza. Daí o símile. É um
fato bem conhecido, tanto na ciência física quanto no ocultismo, que o som agregado
da natureza como no rugido dos grandes rios, ou no ruído produzido pela
oscilação dos cimos das árvores numa grande floresta, ou no som de uma cidade
ouvido à distância - é um tom único e definido de alcance perfeitamente
apreciável. Mostram-no físicos e músicos. Assim, o prof. Rice (A Música
Chinesa) diz que os chineses reconheceram o fato há milhares de anos, dizendo
que as águas do Hoang-ho, ao correr, davam o Kung, chamado “o grande tom” na
música da China; e mostra que este tom corresponde ao lá, “considerado pelos
físicos modernos o tom essencial da natureza”. O Prof. B. Silliman cita-o,
também, no seu Princípio da Física, dizendo que “este tom é dado como sendo o
lá médio do piano, que pode, portanto, ser considerado a nota mestra da natureza”.
.
108. Os Bhöns
e Dugpas e as várias seitas dos “barretesvermelhos”, são considerados como os
mais hábeis feiticeiros. Vivem no Tibete Ocidental, no Tibete Menor e no
Butham. São todos Tantrikas. É absolutamente ridículo encontrar orientalistas
que visitaram as fronteiras do Tibete, como Schlagintweit e outros, a confundir
os ritos e nojentas práticas desta gente com as crenças religiosas dos Lamas
orientais, os “barretes-amarelos” e os seus Naljors ou homens santos. .
109. Amitabha.
o Imortal Iluminado, nome de Gautama Buda (Na simbologia do budismo
setentrional diz-se que Amitabha ou o espaço ilimitado (Parabrahman) tem no seu
paraíso dois Bodhisattvas - Kuan-shi-yin e Tashishi - que não cessam de
irradiar luz sobre os três mundos onde viveram, incluindo o nosso, para, com
esta luz (do conhecimento), auxiliar a instrução dos iogues, os quais, por sua
vez, salvarão os homens. A sua alta posição no reino de Amitabha é - diz a
alegoria - devida a atos de misericórdia por ambos praticados, como tais iogues,
quando na terra). .
110. Dorje é o
sânscrito Vajra, arma ou instrumento nas mãos de alguns Deuses (os Dragshed
tibetanos, os Devas que protegem os homens) e é considerado como tendo o mesmo
poder oculto de repelir más influências - purificando o ar - que o ozone tem na
química. É também um Mudra, gesto e posição usados ao sentar para a meditação.
É, em resumo, símbolo de poder sobre más inf1uências invisíveis, quer como
posição, quer como talismã. Os Bhöns e Dugpas, porém, tendo apropriado o
símbolo, aproveitam-se dele sinistramente para os fins da magia negra. Para os
barretes-amarelos, ou Gelugpas, é símbolo de poder, como a cruz para os
cristãos, e é tampouco superstição como esta. Para os Bhöns é, como o duplo
triângulo invertido, o sinal da bruxaria. .
111. Vairagya
é o sentimento de absoluta indiferença para com o universo objetivo, ao prazer
e à dor. “Nojo” (como o nojo da sociedade) não dá bem a idéia, mas é o mais
próximo que há. (“Despaixão” seria, talvez o termo mais apropriado.) .
112. Ahamkara
- o sentimento da sua própria personalidade, a noção do “eu sou”. .
113. “Um que
segue as passadas dos seus predecessores” é o verdadeiro sentido do nome
Tathagata. .
114. Samvritti
é aquela das duas verdades que demonstra o caráter ilusório ou o vácuo de todas
as coisas. Neste caso significa a verdade relativa. A escola Mahayana ensina a
diferença entre estas duas verdades - Paramarthsatya e Samvrittisatya
(Satya-verdade). É este o pomo de discórdia entre os Madhyamikas e os
Yogacharyas, os primeiros dos quais negam, e os segundos afirmam, que todo o
objetivo existe devido a uma causa anterior ou por concatenação. Os Madhyamikas
são os grandes niilistas e negadores, para quem tudo é Parikalpita, uma ilusão
e um erro no mundo do pensamento subjetivo tanto como no universo objetivo. Os
Yogacharyas são os grandes espiritualistas. Samvritti, portanto, por ser
apenas a verdade relativa, é a origem de toda a ilusão. .
115. Os
Lhamayin são elementais e maus espíritos adversos aos homens, e seus inimigos.
.
116. O Eu
superior, ou personalidade pensante. .
117. Jnana-Marga
é, literalmente, o caminho de Jnana, ou o Caminho do Conhecimento Puro, de
Paramartha ou (em sânscrito) Svasamvedana, a reflexão evidente por si mesma, ou
autoanalítica. .
118. É esta
uma alusão a uma crença bem conhecida no Oriente (como, de resto, também no
Ocidente) de que cada Buda ou santo a mais é um novo soldado no exército
daqueles que trabalham pela libertação ou salvação da humanidade. Nas regiões
do budismo do Norte, onde é ensinada a doutrina dos Nirmanakayas - aqueles
Bohisattvas que renunciam à justamente merecida veste do Nirvana ou do
Dharmakaya (qualquer dos quais os isolam para sempre do mundo dos homens) para
invisivelmente auxiliar a humanidade e conduzi-la finalmente ao Paranirvana -
cada novo Bodhisattva, ou Grande Adepto Iniciado, é denominado o libertador da
humanidade. A afirmação, feita por Schlagintweit no livro O Budismo no Tibete,
de que Prulpai ku ou Nirmanakaya é “o corpo em que os Budas ou Bodhisattvas
aparecem na terra para ensinar os homens” é absurdamente errônea e nada
explica. .
119. Uma
referência às paixões e pecados humanos que são chacinados durante as provações
do noviciado, e servem de terreno bem adubado onde podem nascer os germes ou
sementes das virtudes transcendentais. As virtudes, talentos ou dons
preexistentes têm-se por adquiridos numa nascença anterior, O gênio é sem
exceção um talento ou aptidão trazido de uma vida anterior. .
120. Titiksha
é o quinto estado da Raja Ioga - um estado de suprema indiferença; a submissão,
se for preciso, ao que se chama “o prazer e a dor para todos”, mas não tirando
nem prazer nem dor de tal submissão - em suma, o tornar-se física, mental, e
moralmente indiferente e insensível quer ao prazer, quer à dor. .
121. Sowani é
aquele que pratica o Sowan, o primeiro caminho em Dhyana, um Srotapatti. .
122. Dia aqui
significa todo um Manvantara, um período de incalculável duração. .
123. Meru, a
montanha sagrada dos Deuses. .
124. Na
simbologia do budismo setentrional diz-se que Amitabha ou o espaço ilimitado
(Parabrahman) tem no seu paraíso dois Bodhisattvas - Kuan-shi-yin e Tashishi -
que não cessam de irradiar luz sobre os três mundos onde viveram, incluindo o
nosso, para, com esta luz (do conhecimento), auxiliar a instrução dos iogues,
os quais, por sua vez, salvarão os homens. A sua alta posição no reino de
Amitabha é - diz a alegoria - devida a atos de misericórdia por ambos
praticados, como tais iogues, quando na terra. .
125. Estes
três mundos são os três planos do ser - o terreno, o astral e o espiritual. .
126. O “Muro
da Guarda”, ou “Muro da Proteção”. É-nos ensinado que os esforços acumulados de
longas gerações de Iogues, Santos e Adeptos, especialmente dos Nirmanakayas, criaram,
por assim dizer, um muro de proteção em torno da humanidade, que a guarda
invisivelmente contra males ainda maiores. .
127. Do
sânscrito Arhat ou Arham. .
128. Klesha é
o amor ao prazer ou à alegria terrena, quer seja boa ou má. .
129. Tanha, a
vontade de viver, aquilo que causa o renascer. .
130. Esta
compaixão não deve ser tida por análoga ao “Deus, o divino amor” dos teístas. A
compaixão significa aqui lei abstrata, impessoal, cuja natureza, sendo a
harmonia absoluta, se torna confusa pela discórdia, pelo sofrimento, e pelo
pecado. .
131. Na
fraseologia do budismo do Norte todos os grandes Arhats, Adeptos e Santos são
denominados Budas. As citações atuais são feitas do Thegpa Chenpoido, o
Mahayana Sutra, “invocações aos Budas da Confissão”, Parte I. IV. .
132. Um
Bodhisattva é, hierarquicamente, menos do que um Buda perfeito. Na linguagem
exotérica os dois são muito confundidos. Mas a percepção popular, correta e
inata, colocou um Bodhisattva, devido ao seu grande sacrifício, mais alto no
seu respeito do que um Buda. .
133. Esta
mesma reverência popular chama “Budas da Compaixão” àqueles Bodhisattvas que,
tendo chegado ao grau de Arbat (isto é, tendo completado o quarto ou sétimo
Caminho), recusam-se a passar para o estado nirvânico ou “vestir a veste do
Dharmakaya e passar para a outra margem”, visto que então já não poderiam
auxiliar os homens mesmo o pouco que o Carma permite. Preferem continuar
invisivelmente (no espírito, por assim dizer) no mundo, e contribuir para a
salvação humana, influenciando os homens a seguir a boa Lei, isto é, levando-os
para o Caminho da Virtude. É costume entre os exotéricos do budismo do Norte
venerar estes grandes seres como santos e mesmo rezar a eles, como fazem os
gregos e os católicos aos seus santos e padroeiros; mas os ensinamentos
esotéricos não permitem essas orações. Há grande diferença entre as duas
doutrinas. O exotérico laico mal sabe o verdadeiro sentido da palavra
Nirmanakaya - daí a confusão e as explicações insuficientes dos orientalistas.
Por exemplo: Schlagintweit crê que Nirmanakaya significa forma física assumida
pelos Budas quando encarnam na terra - “o menos sublime dos seus invólucros
terrenos” (ver O Budismo no Tibete) - e passa a dar opinião inteiramente falsa
sobre o assunto. A verdadeira doutrina é, porém, esta:
Os três corpos ou formas búdicas são denominados:
I. Nirmanakaya.
II. Sambhogakaya.
III. Dharmakaya.
O primeiro é aquela forma etérea que ele assumiria
quando, abandonando o corpo físico, aparecesse no corpo astral -tendo a mais
todos os conhecimentos de um Adepto. O Bodhisattva desenvolveu-o em si mesmo à
medida que avança no caminho. Tendo chegado à meta e recusado a fruição da
recompensa, permanece na terra como um Adepto; quando morre, em vez de entrar
para o Nirvana, fica no corpo glorioso que para si teceu, invisível à
humanidade não-iniciada, para velar por ela e protegê-la.
Sambhogakaya (literalmente “Corpo de Compensação”) é o
mesmo Nirmanakaya, mas com o brilho adicional de três perfeições, uma das quais
é a obliteração de todas as preocupações terrenas.
O corpo Dharmakaya é o de um Buda completo, isto é,
não é corpo nenhum, mas o sopro ideal; a consciência imersa na consciência
universal, ou a alma despida de todos os atributos.
Uma vez tornado um Dharmakaya, um Adepto ou Buda
abandona toda a possível relação com, ou pensamento ligado a esta terra. Assim,
para poder auxiliar a humanidade, um Adepto que adquiriu o direito ao Nirvana,
“renuncia ao corpo Dharmakaya”, falando misticamente; guarda, do Sambhogakaya,
apenas os grandes e completos conhecimentos, e fica no seu Nirmanakaya. A
escola esotérica ensina que Gautama Buda, com vários dos seus Arhts, é um
Nirmanakaya deste gênero, acima do qual, pela grande renúncia e sacrifício pela
humanidade, não existe ninguém. .
134. Myalba é
a nossa terra - propriamente chamada de Inferno - que a escola esotérica chama
o maior de todos os infernos. A doutrina esotérica não conhece inferno, ou
lugar de castigo, a não ser um planeta habitado ou terra. Avichi é um estado e
não um lugar. .
135. Isto
significa que nasceu um novo salvador da humanidade, que conduzirá os homens ao
Nirvana final, isto é, depois do fim do ciclo de vidas. .
136. Esta é
uma das variantes da fórmula que invariavelmente fecha todo o tratado,
invocação ou instrução. “Paz a todos os seres”, “Bênçãos sobre tudo quanto
vive”, etc. .
F I M
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